Orgulho: Reflexão Entre a Virtude e o Pecado
Dr. Maurício Ricardo
2 Coríntios 7:4 (NVI) "Tenho grande confiança em vocês, e grande é o meu orgulho por vocês. Sinto‑me bastante encorajado; a minha alegria transborda em todas as nossas tribulações"
Em outra tradução (KJ) "Grande é a minha ousadia no falar convosco; grande é a minha alegria em vós; estou cheio de conforto; transbordo de alegria em todas as nossas tribulações."
Eu sempre tive certa dificuldade de entender o orgulho. O orgulho no sentido espiritual é ruim, já que o autoconceito de grandioso eu entendo como heresia, já que grandioso é o Pai que nos permite toda a sabedoria e inteligência e nos permite progredir na vida, para Sua honra e glória. Porém, no senso comum, o orgulho pode ter uma conotação de se sentir feliz por um trabalho bem realizado ou orgulhar-se de alguém amado e próximo que, atingiu patamares de sucesso. Como resolver essa questão? Como encarar o sentimento de orgulho nestes dois contextos?
Essa questão é profunda e toca tanto aspectos espirituais quanto emocionais do ser humano. A diferença entre o orgulho considerado pecado no contexto bíblico e o orgulho como senso comum pode ser entendida ao observar a intenção por trás do sentimento e os efeitos que ele produz.
Orgulho no sentido espiritual
No contexto bíblico, o orgulho geralmente é associado à soberba, arrogância e à exaltação do "eu" acima de Deus. Esse tipo de orgulho é perigoso porque:
Desconecta de Deus: Ele cria uma falsa sensação de autossuficiência, ignorando que tudo o que temos e somos vem d’Ele.
Promove comparação destrutiva: Alimenta a ideia de superioridade sobre outras pessoas, o que vai contra o princípio cristão de humildade e serviço.
Endurece o coração: Afasta-nos do arrependimento e da dependência de Deus.
Nesse contexto, o orgulho é um desvio espiritual, pois coloca o foco no ego humano em vez de glorificar a Deus.
Orgulho no senso comum
No senso comum, o orgulho pode ser um sentimento positivo, que celebra conquistas legítimas e reconhece o valor de pessoas queridas. Esse tipo de orgulho é diferente porque:
Está enraizado na gratidão: Sentir-se feliz por algo que foi alcançado, sabendo que é fruto de esforço, mas também das oportunidades e das bênçãos recebidas.
Reconhece a coletividade: Orgulhar-se de um filho, amigo ou colega reflete alegria pelas conquistas alheias, sem arrogância.
É edificante: Esse orgulho pode ser uma expressão de encorajamento e inspiração, tanto para si quanto para os outros.
A chave aqui está no reconhecimento de que, mesmo em nossos méritos e sucessos, há a graça de Deus, e no uso desse sentimento para edificar, e não para glorificar o ego.
Como resolver a questão?
A reconciliação desses dois aspectos pode ser encontrada no equilíbrio entre humildade e gratidão:
Humildade: Reconhecer que tudo vem de Deus e que nossas conquistas são, em última instância, uma extensão do Seu poder e bondade.
Gratidão: Usar o orgulho no senso comum como uma forma de louvor a Deus, agradecendo por Ele ter permitido que você ou alguém próximo realizasse algo significativo.
Quando você se sente orgulhoso de algo, pergunte-se:
Esse sentimento me aproxima de Deus ou me afasta d’Ele?
Ele reflete gratidão e alegria por Suas bênçãos, ou está enraizado em soberba e exaltação pessoal?
Se o orgulho for usado para inspirar, agradecer e honrar a Deus, ele não entra em conflito com a espiritualidade. Afinal, até o apóstolo Paulo, expressou orgulho santo por seus irmãos na fé como em 2 Coríntios 7:4, mas sempre com um espírito de gratidão e louvor a Deus.
